(sff ,clique)
20 maio, 2010
fim de um ciclo, princípio de outro
(sff ,clique)
17 abril, 2010
ASAS
15 abril, 2010
18 março, 2010
07 março, 2010
A taça das tuas mãos
a água fresca do dia,
Vá, toca-me ao de leve com tuas mãos
António Simões
foto recuperada in : « A linguagem das flores » , editado por Sheila Pickles - Melhoramentos
05 março, 2010
Universo azul (flores da simbiose)[1]
Pela sua boca, canto iluminuras, pérolas, guitarras solares.
No odor a cedros, anuncio os seus dedos frágeis,
a sua infinitude;
— cabelos flutuando, boca dançarina,
os botões da Primavera lembrando a “Kreutzer”
(Sonata n.º 9 de Beethoven), “staccato”, violino e piano, limite puro
— a beleza eclodindo em seus gestos,
discursiva, épica, derramando flores.
um tempo para cantar a sua brancura, ecos da sua harmonia
— odes de água e silêncio.
as palavras e o amor (prelúdio de uma fuga).
eu, poeta que canta o cobalto e as marés,
transcrevo a madrugada
Beijá-la-ei na ondulação do trigo (a água e os frutos resplandecendo).
Dir-lhe-ei os corais, o universo azul, todas as distâncias abolidas,
estrelas marinhas e líquenes.
Segredar-lhe-ei toda a alquimia, perfumes voláteis;
o lume do olhar iluminando o seu rosto velado.
numa janela veneziana, ela ¾ a própria noite.
como se encontrasse o seu nome em cada aroma,
(permanece intacto o seu enigma, a sua boca).
escrevo-a na penumbra das aves, celebrando a sua música secreta
¾ o idílio de Siegfried e Brünnhilde ¾,
violetas submarinas.
um nome imperecível, coroado de diademas azuis.
Contemplo-a, no seu idioma secreto, na estrutura do amanhecer
(sei que o amor é primordial e antigo).
irrompendo as fronteiras.
___________________________________________
Amo-a primordialmente,
temperada, morena.
Quero vê-la, protuberante, nítida, perfumada,
intacta, sublime, móvel.
Desvairado, inebriado me arrebato, “amens amensque”.
Um pedaço de mim mesmo desfalece,
decreta o estado de sítio (o coração em desordem).
Não mo permitiram os deuses.
impede-me de extinguir a fonte originária da minha inquietude.
Mulher de água, de plenitude inesperada,
como desejaria beijar,
longa, perene e delicadamente,
teus cabelos singularíssimos, compactos, homogéneos.
(Há tanta coisa que não conheço).
Beijar teus cabelos seria morrer na harmonia da tua luz.
Debalde peço a esses ramos:
— Ide dizer-lhe quanto a amo.
Oculto-me — sou secreto.
Via-te, aprumada e glamorosa,
no pólo oposto, junto aos apanhadores de borboletas
(Concerto para violino de Brahms, Opus 77).
As margens do caminho eram invadidas por palmeiras interiores.
E em pleno nada o tempo não se expandia
— a essência sempre parca de neve e rosa.
De vez em quando, comia rebuçados de papel
(a sua prata era viva).
Os violinos fragmentados eram as sombras dissolvidas,
cimitarras bárbaras, num êxtase asfixiante.
Queria revolucionar a estática imagem, a perenidade dos lábios.
Só me coube a estrutura espelhada do verso
Cântico dos Cânticos, 4: 9
Música e essência, tu surges sempre com vinho e harpas;
Devo assinalar-te nesses cálices de doçura:
Ouves a canção das borboletas? É a tua face.
Contigo trazes a flor e o trigo, no esplendor da tua voz.
Vejo-te em todos os vislumbres da perfeição.
És omnipresente;
Celebro-te, inaugural, nas flores da simbiose.
— A tua carne é a carne do poema.
O tempo abre-se para nós, nas nossas mãos.
A tua voz é o oásis de mim, a luz e o fruto
Renasces em mim perenemente.
Feita da matéria nocturna e da matéria delicada,
Adquires o corpo, as suas núpcias,
Beijo-te imaginariamente, apartas-me subitamente da melancolia.
Tal como o éter é rasgado pela tempestade
A felicidade és tu;
E os teus olhos são pétalas que se abrem, como borboletas azuis.
Oh, amada pérola, quão estimada és para mim!
Ivo Miguel Barroso,
Assistente da Faculdade de Direito de Lisboa
28 fevereiro, 2010
Natura arsque*
O ser, caligrafia incerta.
O poema é um acto novo, inicialmente indefinido,
mergulhado nos violinos de água, nos augúrios da descoberta,
precipitando o nada, o desconhecido;
a trípode, o bálsamo, o desconcerto, a anémona;
a noite da noite; um som terrível;
o cânone abrindo a luz secreta da solidão,
o murmúrio indivisível imortalizando o nome.
Um sabor que começa a nascer.
Vejo o ser, caligrafia incerta, torres de alabastro.
Um poema - a única forma de conhecer o tempo,
a ordem criadora, a latitude boreal, os cometas da metamorfose,
lunações no céu nocturno; um único ponto de luz.
Uma razão, um fundamento.
O fulgor imediato para descobrir a escuridão,
o lado-morte por vezes, um barco para o Hades
- uma vela de mim.
Procuro, entre a palavra e o metal, a pedra e o silêncio,
o gérmen da claridade,
nessas águas iniciáticas, lugares onde as árvores amadurecem,
onde as folhas se propagam,
onde as cigarras gemem, exuberantes, fascinadas pela forma da substância.
A noite - vivo fragmento na dança das casas, borboletas voltejando;
os tempos, os lugares.
“Natura arsque”.
Nesses momentos, invoco Atena, a fonte de Hipocrene, leitos de água.
Novelos de prata, vida infinita;
formei a minha alma de intérprete dos pássaros e dos sonhos
(folhas orvalhadas, mistério oculto).
Canto essas paredes incólumes à destruição
e canto a teoria das coisas, a mobilidade apoteótica das raízes.
Canto a pureza, esse canto azul,
sob o sol dinâmico de um grito originário,
num poema que é um verso de água,
.....................múltipla
..............................e
..............................criadora.
Ivo Miguel Barroso
___________________________________________
* Publicado na revista “Inventio”, n.º 10, da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, 1999.
21 fevereiro, 2010
12 fevereiro, 2010
06 fevereiro, 2010
Ríos que pasan siempre cambiantes
(Para Raúl Gálvez Cuéllar)
Ríos que pasan siempre cambiantes
Tienen la memoria del tiempo
Ellos pasan solamente
Sus caras van lavadas al sol
Siempre en oro y en grana
Ríos que pasan siempre cambiantes
Dejan su memoria en los pueblos
Son nobles pero otros siempre son
Ellos construyen, ellos destruyen
Imperecederas son sus huellas
Ríos que pasan siempre cambiantes
Son cristalinos, osados y rumurosos
En el impulso vital de sus cauces
Tienen la memoria de mil pueblos
Ríos que pasan siempre cambiantes
Llevan el color mismo de la vida
La vida es el tiempo que se abre en flor
Ella es nube, es lluvia y es trueno
Líquido que es sangre del corazón
que hacia la mar camina perdurable.
José Pablo Quevedo
05 fevereiro, 2010
Caso Pluvioso
A chuva me irritava. Até que um dia
descobri que maria é que chovia.
A chuva era maria. E cada pingo
de maria ensopava o meu domingo.
E meus ossos molhando, me deixava
como terra que a chuva lavra e lava.
Eu era todo barro, sem verdura...
maria, chuvosíssima criatura!
Ela chovia em mim, em cada gesto,
pensamento, desejo, sono, e o resto.
Era chuva fininha e chuva grossa,
matinal e noturna, ativa...Nossa!
Não me chovas, maria, mais que o justo
chuvisco de um momento, apenas susto.
Não me inundes de teu líquido plasma,
não sejas tão aquático fantasma!
Eu lhe dizia em vão - pois que maria
quanto mais eu rogava, mais chovia.
E chuveirando atroz em meu caminho,
o deixava banhado em triste vinho,
que não aquece, pois água de chuva
mosto é de cinza, não de boa uva.
Chuvadeira maria, chuvadonha,
chuvinhenta, chuvil, pluvimedonha!
Eu lhe gritava: Pára! e ela chovendo,
poças dágua gelada ia tecendo.
Choveu tanto maria em minha casa
que a correnteza forte criou asa
e um rio se formou, ou mar, não sei,
sei apenas que nele me afundei.
E quanto mais as ondas me levavam,
as fontes de maria mais chuvavam,
de sorte que com pouco, e sem recurso,
as coisas se lançaram no seu curso,
e eis o mundo molhado e sovertido
sob aquele sinistro e atro chuvido.
Os seres mais estranhos se juntando
na mesma aquosa pasta iam clamando
contra essa chuva estúpida e mortal
catarata (jamais houve outra igual).
Anti-petendam cânticos se ouviram.
Que nada! As cordas d’água mais deliram,
e maria, torneira desatada,
mais se dilata em sua chuvarada.
Os navios soçobram. Continentes
já submergem com todos os viventes,
e maria chovendo. Eis que a essa altura,
delida e fluida a humana enfibratura,
e a terra não sofrendo tal chuvência,
comoveu-se a Divina Providência,
e Deus, piedoso e enérgico, bradou:
Não chove mais, maria! - e ela parou.
Carlos Drummond de Andrade
Obs.: Este poema, dito por Paulo Autran, pode ser ouvido no YouTube, clicando AQUI
29 janeiro, 2010
"DE AMOR ARDEM OS BOSQUES" - novo livro de MARIA AZENHA
A nova obra poética «De Amor Ardem os Bosques» tem nascimento previsto para o final de Janeiro de 2010. A tiragem é de 250 exemplares, dos quais 50 são numerados e assinados pela autora.
As reservas da obra podem ser feitas através do email:
Edição limitada