12 agosto, 2009

No teu deserto*




"escrever é usar as palavras que se guardaram: se tu falares de mais ,já não escreves ,porque não te resta nada para dizer"

-*Miguel Sousa Tavares.

se te disser - tenho saudades - acreditas? sei que não
mas sim .hoje tenho saudades das tuas asas e do teu desalinho que te transformavam de ave em fonte .de vida .do deserto onde pintavas caravanas de amor .das dunas onde dentro escondias os poemas .havia um lirismo que te incendiava os dedos e a minha boca fechada tentava captar os sons do universo .eram asas os teus braços e linhas as tuas mãos .guiavas - 4X4 - naquele silêncio sereno que me habituou a ver .a sentir .a ser .o nada .o absoluto .tu gritavas .eu sorria e as pistas cobriam.se daquele frio de incêndio que só nós sabíamos traduzir .uma noite apontei.te o ruído das estrelas onde te reservei um espaço cativo .lembras.te? amanhã voltarei ao mesmo lugar .contarei de novo as estrelas e cuidarei de atirar pássaros de luz contra a escuridão do teu não estar .em comum manterei a solidão a memória a tenda e o livro aberto ao teu corpo .a tua fragilidade a minha força .o meu medo o teu arbítrio .doem.me as mãos ao desmontar.te .acaso descobrirei o trilho que os deuses nos reservaram

ou descerei a num novo poço de [in]significantes?