24 maio, 2009

cante quatorze* - a dor


uma dor profunda
irracional
arde no peito
da ave que repousa
na impossibilidade de guarnecer o nada
o imponderável subsiste
quando a dor volta
como se de uma velha amiga se tratasse e
trata
ninguém interfere com o esvoaçar da borboleta
ferida
um pássaro olha.a
num lento e timbrado bater de asas
fecha.se um livro sobre o corpo da borboleta
as asas projectam.se na lombada
do olhar do pássaro
impenetrável
abre as asas
negras
de contornos azuis e verdes
o negro impera
como a dor
torna.se irrespirável e
o som das asas da borboleta adorna
um corpo moribundo de mulher
a melancolia profunda
torna.se física
na insistência das horas
que não passam
o telefone que não toca
a tristeza
insistente
mente
regressa no segundo seguinte
restam duas
a melancolia e a mulher
e o pássaro
e a borboleta
e o livro
afinal são cinco
uma mão cheia de nada

ainda se o colofão ousasse!

-vasely curtains.
______________________

*sou ,endemicamente ,contra o acordo ortográfico - não passei procuração a ninguém para decidir por mim - razão porque continuarei a escrever o português como aprendi .não aceito que "certos" Puristas da Língua me interditem...

gabriela rocha martins.