14 novembro, 2009

explicação dos espelhos de Maria Azenha por Rogel Samuel






Rogel Samuel - Ensaísta, poeta, crítico literário e romancista brasileiro


Para ela, os espelhos cantam, encantam, se multiplicam, se escondem no coração nos seus reflexos, na chuva e no corpo escondidos, ninguém os vê, e sobe aos céus uma escada imaginária de relâmpagos, de reflexos, uma escada rural, feita e emoldurada de folhas, de cântaros, de cantares, Maria Azenha mata a sede mata a pomba de dentro do poema, de dentro dos espelhos em que os reflexos se vêem e se negam, para que alguém possa morrer, para que alguém possa viver, cantar seu rumo no rumor do fogo, no rumor do jogo, no rumor dos espelhados, dos despedaçados.


***

explicação dos espelhos

e multipliquem os espelhos que cantam

tenho o coração escondido para que ninguém o veja

conheço a chuva dos olhos e encosto o ouvido

aos joelhos



dou-te uma escada construída por relâmpagos

uma escada feita de folhas e de cântaros para

matar a sede

e uma pomba dentro do poema

para que possas morrer



cantar num rumor

do

fogo


Maria Azenha


***


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