11 setembro, 2008

TUDO SE DESPRENDE


tudo se desprende
uma pétala de uma comum flor
um selo de uma carta
um risco na data de uma lápide
uma pena de ave passageira
tudo se desprende

um supetão de lágrimas novas
o pó deixado no ar pelo cavalo
no areal de uma clareira
tudo se desprende

um verso de uma folha verde
um sorriso incerto e soalheiro
uma fotografia na folhagem
uma nota musical à margem da página
tudo se desprende

os dedos das mãos abertas
as palmas revoltas
uma pestana dos teus dedos
as minhas mãos nos teus cabelos
tudo se desprende
tudo se desprende

José Ribeiro Marto