-steven kenny.
olho o vagabundo do outro lado da rua
tenho pena
não dele
mas de mim
sentado no chão tem o absoluto do nada e
eu?
reservo.me na serventia de tudo
olho a cigana do outro lado do passeio
invejo as palavras com que tece
nas mãos
o futuro
ilusões e
eu?
presa ao presente em que o nada se compraz
no absurdo das intenções
a cabeça reserva.me a dúvida
o cansaço das estórias recriadas
repisadas
ninguém tem o direito de ser
míseros ímpios feitos em deuses
senhora
o vinho corre!
deixá.lo correr
alguém pergunta
porquê?
o bêbado bebe
na solidão de si
se for o caso
ou talvez não e
porque não?
o vagabundo olha.me
estendo a mão a que a cigana revestiu de cacos
deixo.lhe um sorriso
preso à imensidão de um olhar
profundo
que não ouso
não sei colar os cacos que a cigana
forjou
o não é a palavra proscrita
no sim de uma vida
sem desígnio de viver
perseguem.me os fantasmas da escrita
a maledicência transfere o golpe mortal
choro o animal ferido
rio.me do pontapé dado a um irmão
de raça
alimento.me de ossos e
peles
como uma predadora imersa
em ladaínhas de bem querer
não ouso
prefiro o salto do vagabundo que
me estende a mão para segui.lo
ao encontro oculto da cigana
sou
sapato
gato
rato
a ínfima parcela de um choro
que não choro
de uma gargalhada
que não dou
coloco a cabeça entre as mãos
aperto.a
não me detenho em nada
não ouço nada
prefiro a algazarra do demónio
onde encontro o absurdo do não ser
em perfeição
não magoa nem dói
matei a alegria
matei a cigana
matei o vagabundo
não percebi que ao fazê.lo
me matava a mim
fiquei reduzida ao nada
in feliz
no espaço que circunda
o estar no meio do conflito
deixem.me entregue às minhas loucas
fantasias onde bebo
( e porque não? )
os néctares que me aprouver
deixem.me
ser
a ausência
a verdade
falsa do trio que desenhei
o vagabundo
a cigana e eu
três marginais no destino
estou tão cansada de ser
valorizo hoje
amanhã destruo
a sobreposição de valores
de comportamentos
de atitudes
como manda a santa madre igreja
os anjos
os arcanjos
os santos
os demónios
el.rei e
senhor
sou muito bem comportada
respeito a cor
o grito
o silêncio
o absurdo
a redundância
tudo começa a fazer sentido
ausento.me em cansaço
olho o outro lado da rua
não vejo o vagabundo
terei sonhado?
a cigana sumiu
terei enfabulado?
não me revejo
estarei acordada?
é necessário que alguém vigie
os extra.terrestres acabam de ocupar
o centro da avenida
têm olhos redondos
nariz redondo
orelhas redondas
barriga redonda
a boca
é afiada
ah! têm duas línguas
bífidas
como as serpentes que procuram a estrada
cabeça erguida na morte
as cadeiras
aprumadas
continuam à espera que o espectáculo comece
os actores não comparecem
[ alguém inverteu os papéis ]
apagam.se os projectores
deliberada
.................mente