24 fevereiro, 2009

SONETO LABIRÍNTICO

Hora Mitológica, desenho de Augusto Mota,1961,
verniz celuloso e tinta-da-china, 27 x 19,5 cm.
*
Claramente, um jardim labiríntico:
Veredas circulares, buxos dementes –
E um jardineiro que passa esfíngico
E apara as sebes com os dentes.

O canto da razão soando cínico
Desbastando os sonhos, e tu consentes
Nas áleas sem fim o desdém olímpico
De seus olhos frios e sempre ausentes.

Claramente, um jardim feito a compasso
Que em horas de emoção desfaço
E à demência circular ponho fim.

Aqui o deixo em sua geometria.
P’ra que ninguém se perca, todavia,
Fechado estará sempre este jardim.

ANTÓNIO SIMÕES, in «Soneto de Água e outros», "Manhã Nova Edições”, Estremoz, 1994, p. 23.