02 julho, 2009

usina de sonhos (com o meu abraço, agora, que voltei mais inteira)

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Caros Marginais da Poesia
partilho com Alegria a minha estada em dois Córregos e a possibilidade de aí apresentar o meu trabalho poético.
Constou de uma Parábola em três partes:
Um breve discurso livre (2.º momento)
que tomou como ponto de partida a leitura
(1.º momento) do documento que abaixo se transcreve.
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E o ritual poético propriamente dito,
que foi desenrolado num 3.º momento
em torno de fragmentos do meu inédito (2003)
"resguardo das Esfinges. declinações do branco".
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"O pacto a firmar com este texto será sempre «de inconforto« (não de desconforto, mas de inquietação, no que o termo tem de mais estimulante): não estamos aqui para ler coisas de esquecer; não estamos aqui para falar de histórias de uma história que todos conhecemos, porque elas não se alteraram muito nos últimos duzentos e cinquenta anos e continuamos a vivê-las e a observá-las no nosso dia a dia. São as histórias de um género que se impôs como narrativa realista, se transformou no paradigma máximo daquilo a que se chama «literatura«, e se ocupa quase sem excepção de destinos individuais, de sujeitos que não ultrapassam uma dimensão psicológica e emocional, e não se movimentam para além de uma espécie de redil, a que se chama sociedade, e onde um um número limitado de «tipos« lutam para se anularem uns aos outros, psíquica ou economicamente — a essa «arte narrativa« chamou Maurice Blanchot «a eterna literatura das amas (Blanchot: 1984, 150). Em certos casos, projectam-se esses conflitos num fundo avermelhado que os faz cair na História, que é sempre a história do poder de uns quantos sobre outros, nunca a da pujança latente em todos e no Ser em geral, que está aí e nos olha (é deste olhar das coisas e dos Vivos, que nós nem sempre dominamos, que vem o inconforto e o medo que alimentam uma escrita-outra, como é a de Maria Gabriela Llansol). Por vezes, já mais próximo de nós, alguns, poucos, souberam afinar a atenção para aquilo que o mundo (dos mundos) nos olha, transformá-la numa espécie de «oração natural da alma«, e produzir com isso textos em que outras dimensões afloram, outras figuras dominam — a do oxímoro, a da ironia ou do paradoxo —, perturbantes também eles, mas quase nunca jubilosos, antes trágicos (a isso chamou-se Modernidade ou Modernismo, e alguns dos seus grandes nomes foram, por exemplo, Kafka, Musil ou Pessoa (...) ".
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Barrento, João. 2008. "A Chave de Ler. Caminhos do Texto de Maria Gabriela Llansol". Na Dobra do Mundo - Escritos Llansolianos. 1.ª ed. Lisboa: Mariposa Azul, 32-33.
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Referência: Blanchot, Maurice. 1984. O Livro por Vir. Lisboa: Relógio d´Água.
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para aceder a fragmentos de "resguardo das Esfinges. declinações do branco." clicar aqui.
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O meu Abraço de Parabéns a Maria do Sameiro!
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