20 março, 2009

CORPOEMA

Borboleta Cauda de Andorinha (Papilio machaon)
Foto de Augusto Mota
*


quando
sinto a poesia
dentro do corpo
é que sei
que não estou morto -
Sob as pálpebras,
no rosto,
entre os dedos,
as palavras,
como crisálidas adormecidas,
esperam,
trémulas,
as asas que as desprendam -
as asas que tu lhes trazes! -
E é só quando chegas
e me beijas o corpo,
verso a verso,
e o lês como se lê um livro,
que elas se libertam
e eu sei que estou vivo -
E vou
E voo
em cada palavra
ao encontro de ti
ao encontro de mim
no corpo do poema.


António Simões, 1978