20 março, 2009

CROCODILOS NO DOURO

Metamorfose - desenho de Augusto Mota, 1961
Flo-master e marcador, 31 x 49 cm.
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Crocodilos no Douro
É pior do que Camões ferido em Ceuta.
O instante, a fotografia,
O efémero para fins comerciais
Atira para os olhos um fumo de cozinha
Jornalístico, garrido, fotogénico.

O Douro não nasceu mouro,
De um canteiro fazem uma pipa
Vinho no rosto dos socalcos
A vender-se, a vender-nos, a beber-se e beber-nos,
Nesta terra além, não dos mares
Mas dos tempos, entre dois lugares.

A Gorgona canta destinos,
E do nosso, desolhados,
Seguramos o manuscrito
No mar que nos coube a Oriente,
Em dia de poesia,
Depois de termos sido país.

Crocodilos no Douro?
Quem sabe se destino
De mares de sargaços,
Estiagem de prémios vis
Na Lisboa onde o rosto
Foi para detrás do sol-posto.

António Augusto Menano, 19.03.2009