08 março, 2009

ENCANTA-ME

Rio de Flores - Foto de Augusto Mota, 8 Março, 2009.
Colipo / Quinta de S. Sebastião do Freixo.
*

A Yvette K. Centeno

Encanta-me,
conta-me um rio que já existiu,
põe de árvore a primitiva ponte,
uma corrente bravia só no estio;
o horizonte na frescura da erva
talha-o a degraus numa só pedra

Encanta-me,
conta-me um rio que já existiu,
que eu amanheça nessa espera,
em que todos já disseram:
é dia.
E eu atenda ao silêncio,
só quando entardece


Conta-me um rio,
com um sol que já se viu,
num céu de luz e de nuvens,
tocado, manso, frio

Conta-me um rio,
onde eu fique descalço,
e os teus braços só tenham
dos meus estes abraços.

Conta-me um rio,
com uma fera que gema e ria,
tremendo da mesma espera,
uive o vento morno do dia.

Encanta-me,
conta-me desse rio que já existiu,
o longo curso fundo , manso,
e a tal fera a pedra lance,
eu descanse.

Encanta-me,
faz-me de mirto azul de chuva,
candeia alta, margem sussurro,
eu sopre o vento - descanse

Encanta-me ,
conta-me um rio,
estas casas são demasiado altas,
este silêncio vem inteiro da noite,
podre já vem o dia.

José Ribeiro Marto