28 março, 2009

a noite Ser


tiro as mãos dentro de mim e deixo as memórias sobre a mesa desalinhada do tempo .desarticulo o rumor da rua que se reproduz .pouso a cabeça sobre a mão direita antes de deixá.la avançar lentamente .a pulseira cai em direcção aos dedos embriagados .os lábios estendem.se .o olhar perde.se liquefeito em eco .apago as imagens vívidas e brinco com os dedos abertos antes de a dorme ser .sonho.me debruçada sobre a chuva de cabelo branco a escavar o tempo e caio na margem de um sono afogada na distância do a noite Ser .sou um animal de rugas desfeitas que se encosta à dor .e sei .sei que adjectivo mal e escrevo ainda pior .não me importo .pouco me importa a palavra e o espaço que se multiplicam entre mim as imagens os dedos os olhos o tempo e o sono .as pálpebras fecham.se ao ritmo lento da voz .não me obedecem .ainda bem .antevejo uma mulher debruçada sobre um balcão de bar e grito.lhe - "hoje faço 30 anos!" - .desfaço.os e desenho.me de ombros/asas abertos .acordo .abro os olhos e vejo.me suspensa em ternura .abraço o vento e aquieto.me na [in]tranquilidade de escrever .hoje faço 30 anos .sou um barco-mulher-vento que navega a noite respirando amor e esqueço .esqueço.me que faço 30 anos

e devagar deito.me sobre as lágrimas onde se amoram as palavras



-gustav klimt.

gabriela rocha martins