18 outubro, 2008

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há sol por entre nuvens, bocados anelantes, recortados fios disformes,
laços esvoaçantes,curvas de linho,deslizes leves ,pregos de fogo brancos.

passa avião zumbindo alto, rasga horizontes,tremem casas
desregram-se saltos esfuziantes, vibram montes,escorrem águas.

tu não sabes que rasgão dar na melancolia,
que prazo lhe conceder, que margem,
tu não sabes quem grita, o que soluça,o que lhe sobra do dias
não sabes por que se lhe levantam as horas,
se repelem os calendários, por que faz as coisas inúteis e vazias.

por que se distanciam os olhos num toque de imprecisão,
porque não te chegam as horas por que andam por que vão.

corro pela chuva,chegou Setembro com uma tapuana ainda verde,
chegou com o sol de intervalo, marítimo, desfolhado, outonal,
chegou no ápice do vento num mergulho fresco e denso,
no torso de fuga de um cavalo submerso de chuva,
ei-lo nas palavras fugidias, no fulgor, expande-se, dura
cavalgando ao alto o freiolume, de salto em salto
na cidade semi-escura,incendiada de gente
a murmurar corrente,ainda enxuto fugindo.

sei que chegou o Outono com uma rima amarela nas tapuanas,repito
sei que trouxe um poema intenso
com palavras hoje horas, amanhã águas beijadas.

vives no descaso com o intenso
com o que perdura, excede ,cresce , o que se ergue e breve permanece
como árvore à minha altura.


José Ribeiro Marto