05 outubro, 2008

UM PÁSSARO NO JARDIM CESÁRIO VERDE

ao meio dia o relógio suspende a hora
no jardim Cesário Verde ouço alegria
é um pássaro insisto nas suas penas
quero inscrevê-las na minha retina antiga
onde outros florescem e ninguém os vê


sei-lhe o nome na paisagem e na árvore
sei-lhe o voo as rotas as inquirições da tarde
sei do pouso em que se acosta o sol em que perdura e arde


e todos os pássaros são aquele
que canta e prolonga o seu cantar pelo dia

é verde por entre a quietude da folhagem vermelha e amarela
canta o dia canta alegria de estar por entre os segredos
o nome não o digo pode morrer
haverá solicitação papel atento
máquina fotografia o perigo à espera
haverá querer apagá-lo basta a fonte de um ouvido

o pássaro pode morrer no nome pronunciado
de o soletrar de o dar a ouvir
por isso o ouço em silêncio desinteressado
não o pronuncio não o digo

o pássaro continua a cantar no meu silêncio
e canta canta
é um cantar de vidro
e é toda a minha infância no cantar dele
que a minha pele chega a doer
ao sol do meio dia

José Ribeiro Marto