10 dezembro, 2008

há lembranças que matam




há lembranças que matam.
há bosques onde os amados vivem para sempre.

há um cutelo de água nas fontes
que separa a luz cega das lágrimas,
quando as palavras voam para muito longe.

há a noite
e os cães que dormem em cordas de sono,
em vogais de vento e abandono.

há barcos que deslizam no horizonte,
muito lentamente,
e as estrelas descem por dentro dos mastros
na noite.

há uma orquídea azul que se suicida
onde começa o teu nome.

há um relâmpago martirizado em meu peito de cambraia
que teima brotar laranjas de fogo.

há um peixe alucinado que canta
desmedidamente,
em um céu de cisternas e serpentes.

é dezembro. e os girassóis recolhem-se para dentro
de um rio vermelho
- atravessam meu peito de agonia e ouro -
rasgam lenços de sede em minha casa de Oriente

há sinos de sangue em molduras de sombra e vento
nos muros da luz.

o Sol ilumina um jardim oculto
que te transforma em fonte



maria azenha



há lembranças que matam - dito por maria azenha