Suspensa dos pêndulos do tempo, vivo à velocidade
dos relâmpagos, flor alucinada, pousada entre os ventos.
Nas metamorfoses do silêncio, nas nervuras do céu,
penetro e habito, nos nervos do sílex pernoito,
nas giestas habito, nas flores amarelas,
nas ramagens aéreas, é que o meu cérebro se espraia
e o meu corpo refulge, se estende e dormita.
Trepanando a tépida imensidão, a urgência do sol circula,
em ondas verdes, em ondas brancas,
em substâncias fendidas, em areias esquecidas,
em palmeiras lunares, descobertas em paraísos distantes.
Entre os desertos e os oásis, o destino da água desenha,
nos remos de neblina, o lugar onde as palavras constroem
de novo a espiral de bruma, a chama, a sede,
o azul e os violinos.
Na salsugem marinha, no leito dos rios, nos limos,
nos cardos, habita o fogo, a ruína, a transparência.
No imenso ardor que guarda a febre e os murmúrios,
a vertigem de espuma desperta, nos casulos do nada,
a carícia exacta que flutuou, um dia,
no selo luminoso das vagas do tempo.
Maria do Sameiro Barroso,
in Revista Saudade, nº 10, Junho, Amarante, 2008, p. 45
dos relâmpagos, flor alucinada, pousada entre os ventos.
Nas metamorfoses do silêncio, nas nervuras do céu,
penetro e habito, nos nervos do sílex pernoito,
nas giestas habito, nas flores amarelas,
nas ramagens aéreas, é que o meu cérebro se espraia
e o meu corpo refulge, se estende e dormita.
Trepanando a tépida imensidão, a urgência do sol circula,
em ondas verdes, em ondas brancas,
em substâncias fendidas, em areias esquecidas,
em palmeiras lunares, descobertas em paraísos distantes.
Entre os desertos e os oásis, o destino da água desenha,
nos remos de neblina, o lugar onde as palavras constroem
de novo a espiral de bruma, a chama, a sede,
o azul e os violinos.
Na salsugem marinha, no leito dos rios, nos limos,
nos cardos, habita o fogo, a ruína, a transparência.
No imenso ardor que guarda a febre e os murmúrios,
a vertigem de espuma desperta, nos casulos do nada,
a carícia exacta que flutuou, um dia,
no selo luminoso das vagas do tempo.
Maria do Sameiro Barroso,
in Revista Saudade, nº 10, Junho, Amarante, 2008, p. 45