31 dezembro, 2008

poema do velho ano novo


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óleo de Joop Frohwein



pena é que o amor seja lembrado só nestes dias
e que dele se fale com abundância quando a chuva cai agora
e ainda há muito frio e as guerras se aceleram
ao fechar do livro do velho ano,
para nos dizer que houve pelo menos um dia de tréguas
e acabe tudo como principia depois da neve.

pena é que só agora viva a magia de um colar de pérolas
com sua métrica e nostalgia de luz alumiando as trevas das ruas.
alimentamos o canto insonoro dos homens sem memória livre
cobrindo as mãos com o silêncio dos injustos .
e voam como mariposas da paisagem de Gaza
as romãs de sangue que floriram a toda a hora.
fazem parte do soar das doze badaladas,
quer tu queiras ou não.

não sei a quem pedir mais Paz no frágil cântaro do tempo,
reparto contigo o vinho e o pão que a terra deu este ano.

na rua silenciosa dormem os cães e os mendigos
sem uma côdea de sonho para os próximos dias do ano novo.
mais tarde adormecem na almofada macia os rostos da anestesia
no terrorismo da jaula dos dias.

pela indiferença morremos.
pela diferença somos ainda poucos
e caminhamos sobre as ondas do mar chorando para dentro dos olhos
a terra inteira


maria azenha