28 agosto, 2008

O FANTASMA DA GEOGRAFIA




atento – ligado a
um emaranhado estéril de constelações estranhas
ligado à sede incompreensível
das pequenas superfícies – o sentido rotular da imagem

ainda ontem robert altman deu-me um inverno para dormir
com a raposa do caminho-de-ferro:
o covil frágil
esboçado no açúcar da neve
o vislumbramento da morte acalentado
pela doce prostituta perdida no nevoeiro
do ópio

cai a frase no painel de transístores
pesada e dura
ensalivada no cais da língua

«o inverno come os ossos negros da prostituição»

sim, acima de tudo
o aborrecimento de estar circunscrito
numa arquitectura nodal das sombras
nas circunvoluções assintomáticas do cérebro:
o fantasma da geografia

nasce dum escorregar simpático nos pisos
progressivamente escavados por detergentes militantes
resume-se na força do líquido
sobre todas as superfícies
amplitude da ambição do eu recolocado no espaço
estrategicamente

a angústia do veneno ● o amar corroendo

certo de querer morar na imagem
habitá-la no que é mais profundo
fruir desprendidamente os veios da polpa
do que se vê
fruto esculpido por lâminas
de todos os órgãos

o homem baleado chuta elipticamente a neve

a pupila concerta a janela entre dois folhos cárneos reflexos

o duplo prepara-se para morrer silenciosamente



Porfírio Al Brandão
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s/ título; André breton, Greta Knutson, Tristan Tzara, Valentine Hugo; 1936