18 agosto, 2008

Que um dia você não se perca

Que um dia você não se perca
entre a cozinha e o corredor.
Que vire Houdini e abra
correntes e baús fechados.
Que não assuma dívidas
por maternas fibras desdobradas.
Que não se obrigue a nada
que o coração não mandar.
Que não tenha medo do mundo
nem das cidades nem dos subúrbios.
Que não tema o pânico de si
e como spiderman agarre sua alma.
Que se perca em amores impossíveis
mas possibilite-se.
Que desperdice o tempo
pois a vida não usa relógio.
Que cresça,
diminua,
encolha e alargue
quando der na veneta.
Que desoriente como Alice,
que apresse como o coelho,
que escape como Snark,
que confunda como Peter Pan.
Que fuja de Otelo
mas persiga noites quentes de verão.
Que seja o que já é
o que será
e o que já foi sendo.

poema de Marcia Frazão / Brasil, 2008

foto e manipulação cromática de Augusto Mota, Agosto de 2008
planta-dos-balões, ou flor-borboleta, paina-de-seda, paineirinha (Asclepias physocarpa)