06 agosto, 2008

Uma coroa no muro

uma coroa de sangue :

- disse alguém –além no muro-

e passou indecisa, não se juntou .

estava tanta gente calada e reunida,

estava tanta gente contida no lodão,

na sombra ramada e escura

na rua

logo na manhã inteira, depois a tarde

alargando ramos e folhas verdes

sobre o telhado, coando o sol...

a árvore dispersou os sonhos da manhã

a coroa de sangue estava no muro

e vinha um bando de borboletas desdobrar asas

no assento branco e vermelho da bicicleta,

nas rodas, nos carretos inquietos, nos pés da criança

a criança rolava e rolava velozmente,

tudo que lhe daria corrida pelo mundo

nos instantes de olhos desviados arduamente

o mundo era pequeno; uma rua, um troço de outra,

meia-avenida, o bastante na manhã

enquanto se velava alma perdida,

a quem ninguém viera

reconhecer os nós dos dedos,

o mais certo sinal que havia na coroa da manhã

espelhada na cal dos muros

e ali jazia pela Liga dos Bombeiros


José Ribeiro Marto