30 janeiro, 2009

PRAISE SONG FOR THE DAY
*
Poem for Barack Obama's Presidential Inauguration

Each day we go about our business,
walking past each other, catching each other's
eyes or not, about to speak or speaking.

All about us is noise. All about us is
noise and bramble, thorn and din, each
one of our ancestors on our tongues.

Someone is stitching up a hem, darning
a hole in a uniform, patching a tire,
repairing the things in need of repair.

Someone is trying to make music somewhere,
with a pair of wooden spoons on an oil drum,
with cello, boom box, harmonica, voice.

A woman and her son wait for the bus.
A farmer considers the changing sky.
A teacher says, Take out your pencils. Begin.

We encounter each other in words, words
spiny or smooth, whispered or declaimed,
words to consider, reconsider.

We cross dirt roads and highways that mark
the will of some one and then others, who said
I need to see what's on the other side.

I know there's something better down the road.
We need to find a place where we are safe.
We walk into that which we cannot yet see.

Say it plain: that many have died for this day.
Sing the names of the dead who brought us here,
who laid the train tracks, raised the bridges,

picked the cotton and the lettuce, built
brick by brick the glittering edifices
they would then keep clean and work inside of.

Praise song for struggle, praise song for the day.
Praise song for every hand-lettered sign,
the figuring-it-out at kitchen tables.

Some live by love thy neighbor as thyself,
others by first do no harm or take no more
than you need. What if the mightiest word is love?

Love beyond marital, filial, national,
love that casts a widening pool of light,
love with no need to pre-empt grievance.

In today's sharp sparkle, this winter air,
any thing can be made, any sentence begun.
On the brink, on the brim, on the cusp,

praise song for walking forward in that light.
*
Elizabeth Alexander
*
Elizabeth Alexander
*
CANTO DE LOUVOR AO DIA
*
na tomada de posse do Presidente Barack Obama

Andamos todos os dias a tratar das nossas vidas,
cruzamo-nos uns com os outros, trocando ou não
olhares, quase a falarmos ou falando mesmo.

Há barulho à nossa volta. Em todo o lado há barulho
e plantas espinhosas, espinhos e ruídos insuportáveis,
os nossos antepassados presentes em nossas línguas.

Alguém arranja uma bainha, remenda
um buraco num uniforme, remenda um pneu,
arranja as coisas que precisam ser arranjadas.

Alguém tenta algures fazer música,
com um par de colheres de madeira num bidão de óleo,
com um violoncelo, caixa de ressonância, gaita de beiços, voz.

Uma mulher e seu filho estão à espera do autocarro.
Um fazendeiro observa o céu que anuncia mudança.
Um professor diz, Peguem nos vossos lápis. Comecem a trabalhar.

Encontramo-nos uns aos outros nas palavras, palavras
cobertas de espinhos, ou macias, segredadas ou declamadas,
palavras para considerar ou reconsiderar.

Atravessamos estradas poeirentas e auto-estradas que atestam
a vontade de alguém e de quaisquer outros que disseram,
Tenho de ver o que está do outro lado.

Sei que há qualquer coisa melhor lá mais adiante.
Precisamos de encontrar um lugar onde nos sintamos seguros.
Caminhamos para algo que ainda não conseguimos ver.

Digamos simplesmente: muitos deram a vida por este dia.
Cantai os nomes dos mortos que nos trouxeram até aqui,
os que colocaram linhas de caminho de ferro, ergueram pontes,

apanharam algodão e alface, construíram
tijolo a tijolo os edifícios reluzentes
que eles próprios manteriam limpos e onde trabalhariam.

Canto de louvor à luta, canto de louvor ao dia,
Canto de louvor a cada nota escrita à mão ,
imaginando-a sobre as mesas das cozinhas.

Alguns vivem pelo ama teu próximo como a ti mesmo, outros
pelo não faças mal a ninguém ou
não queiras mais do que
precisas
. Como não há-de ser assim, se o amor é a mais poderosa das palavras?

Amor para além do conjugal, filial, patriótico,
amor donde a luz jorra e alastra,
amor que não consente agravos antecipados.

Na nítida cintilação deste dia, neste ar de Inverno,
qualquer coisa pode ser feita, qualquer frase ser iniciada.
Mesmo perto, mesmo à beira, mesmo no ponto de viragem,

canto de louvor ao caminharmos em frente envoltos nessa luz.


Elizabeth Alexander


Tradução de António Simões, Janeiro 25, 2009

Elizabeth Alexander, foi convidada por Barack Obama para escrever o poema habitualmente lido nos últimos tempos na tomada de posse. Nasceu
em 1962, em Harlem, Nova Iorque, e cresceu em Washington, D.C.. A sua colectânea de versos mais recente foi finalista do Pulitzer Prize.