do projecto free poetry
nada se sabe
da cândida flor quase a cair do tecto
vistas as coisas por cima
só me lembro de quinta feira à noite com o sol a pino
não sei o que é escrever
não sei o que é um relógio
não sei o que é freeport
escrevo com os ponteiros dos olhos
apodrecidos e tristes
se pensam que isto é um poema
e que este poema com pontas de vidro
tem chapéus de chuva e luvas
enganam-se
este poema não é um poema
porque um poema não é um rebanho
se fosse um rebanho chamava-se Caeiro
e para que servem tantos pastores e tantas ovelhas
se caem tantas igrejas a torto e a direito?
lembrem-se do Dantas que cheirava mal
e dos Silvas e dos Pimbas e dos Sócras
( eu não disse Só-cra-tes estou em hibernação!)
e dos que dão cambalhotas para receber luvas
porque este ano fez muito frio
não há dúvida que uma luva combina mal com Pessoa
que escrevia ao luar com dez dedos
com a melancolia do chapéu preto
que lhe cobria os óculos
imaginem duas nada mais deprimente
às vezes levanto-me do chão porque me deram um soco
lembrem-se do Dantas que cheirava mal
e dos Silvas e dos Pimbas e dos Sócras
nós lidamos com eles
tão pequenos tão vias tão auto estradas
tão verdes
tudo isto como se eu fosse uma lata de lixo
nunca me tragam um poema servido com luvas
está assim criado o dia para não escrever poesia
hoje trinta de Janeiro de dois mil e nove
maria azenha