14 março, 2008

Luís Serrano

nasceu em Évora em 1938. Licenciado em Ciências Geológicas (UC). Estudos especializados na Universidade de Bordéus e em Madrid (CSIC).
Assistente da F. Ciências da UC (1967-1970), geólogo da Direcção-Geral de Minas (Porto, 1970-1975) e Investigador da Universidade de Aveiro (1975-2001). Entre 1996 e 2001, responsável pela coordenação cultural desta Universidade.

Nota bibliográfica

Colaboração dispersa em diversas páginas literárias (Região Bairradina, O Primeiro de Janeiro) e revistas (Vértice e Letras e Letras). Representado em várias antologias.
Foi um dos fundadores da revista de poesia Êxodo (1961).
Obras publicadas: A Taça e o Brinde in Caderno de Poesia Êxodo (Coimbra, 1961), Poemas do Tempo Incerto (Vértice, Coimbra 1983), Entre Sono e Abandono (Estante Editora, Aveiro, 1990), As Casas Pressentidas (edição de autor, Aveiro, 1999, uma das obras premiadas com o Prémio Nacional Guerra Junqueiro) e Nas Colinas do Esquecimento (Campo das Letras, Porto, 2004).
É ainda autor da tradução de Dieu Face à la Science de Claude Allègre (Gradiva/UA, 1998).
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ELEGIA PARA EUGÉNIO DE ANDRADE

Partiste
quando a primavera
se despedia

Quem cantará agora
as cigarras as dunas ermas
o mar a música do vento
nas searas?

Na Póvoa da Atalaia
as cegonhas
passam ainda

perguntam apenas
por essa água breve
que de ti resta
sobre a planície

São lenços caídos no céu
essas aves

mesmo se a neblina
lhes perturba
a roda do entardecer

Só nelas digo
se abre o pranto dos versos
que nos deixaste

inédito, 2005
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Espera

Esperava
que o Sol brilhasse
que a chuva caísse
que o milho nascesse

que as ovelhas
acendessem
a pele sempre lisa
dos prados
com o sopro breve
das campainhas

que os filhos
chegassem da escola
a mulher cortasse o pão
renovasse o vinho

Agora
para ele
o tempo não tem
mais sentido

e só a morte
fidelíssima
continua à sua espera

in Nas Colinas do Esquecimento, 2004