- inédito de Cristina Néry*
num intervalo de pele
degusto tendões que se mostram em rosto lilás.
se o odor da morte é um regador
e os pássaros azuis a geografia das orações
há uma trepadeira intacta a servir de giestas a um violino que uiva os lobos negros.
nas sedas dos túmulos que cintilam encontro um fôlego crú
e o equinócio dos sinos
porque quero a selva como o terreno iluminado de círios
e à cintura as sílabas como arestas
para que um tigre cego me encontre em caule.
já que afastei os ninhos
as tílias enceram-me um pulmão
e a toalha branca tem o banquete do Inverno
e suporta a lagoa das rãs durante a luz.
poderia imaginar a tecitura dourada de uma escama
se uma última pincelada num vidro embaciado
ou até o pulso ficar vermelho.
não preciso dos incêndios e das olheiras marinhas
mas dos pirilampos nos trevos
e de uma cela florida. ________________
*Assistente de investigação no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, membro integrante do Grupo Poético de Viseu "Sarau dos Danados"[clique], e poeta publicada quer em livro, quer na revista Oficina de Poesia