28 abril, 2008

Polifonia Afónica

à gabriela rocha martins

a - cor - dado*
um vale mal dormido
um colchão aspirando uma coluna
a prestações
é muito cedo para aprender
a dobrar lençóis
já que um capitel luminescente
se atreveu a explicar
a branca inconstância da noite
os pés no chão: jogar
ao jogo das vespas
de ninho codificado
até ao tic tac do puxador
as mãos adivinham o vidro
na translacção louca dos olhos
um pé e o outro na varanda

ah! a chinfrineira matutina
de aves em desatino
organizada por palmeiras plantadas
em homenagem a pitágoras

mais de perto
caramanchões de pardais acrobatas
pilotos de barriga amarela
a ensinarem matemática democrática
ao lento voo das gaivotas
que saúdam-me
fazendo-me cócegas no nariz
inspiro expiro espirro
vejo por fim
a nebulosa contricção dos prédios em maresia
que convoca a vulva explosiva
de mar quente
e no regresso me é dado
um beijo de testa no estendal
que é a bizarria de olho cego
*poema de Porfírio Al Brandão ou a sua manifesta resposta ao repto - "Democratização da Poesia ou Banalização da Palavra?"