04 abril, 2008

Poem'Arte // Nas Margens da Poesia . Homenagem a Urbano Tavares Rodrigues



o Poeta da Palavra Vida [que será homenageado pela Câmara Municipal de Silves, no decurso da III Bienal ] nasceu em Lisboa, mas passou a sua infância no Alentejo, perto do Rio Ardila ( Moura ), cujo local influenciará, sobremaneira, a sua obra. Traduzida em diversas línguas, tem como característica principal, a tomada de consciência do indivíduo face a si mesmo e aos outros, processo que se desenvolverá até ao reconhecimento de uma identidade social e política. Numa primeira fase, terá sido influenciado, como ele próprio considera, pelo existencialismo francês, da década de 50. Mais tarde, na sequência da sua detenção em Caxias, passa a revelar-se como um escritor de resistência, a que se segue, após o 25 de Abril de 1974, um período mais optimista.
Licenciado em Filologia Românica, na Universidade de Lisboa, faz o seu doutoramento, com a apresentação de uma tese sobre Manuel Teixeira Gomes, e, jubila.se, como Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1993.
É membro efectivo da Academia de Ciências de Lisboa, membro correspondente da Academia Brasileira de Letras e tem colaboração dispersa por diversas publicações, nomeadamente, o Bulletin des Études Portugaises, Colóquio-Letras, Jornal de Letras, Artes e Ideias, Vértice, Nouvel Observateur, etc.
Recebeu variados galardões literários, como o Prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa, o Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários, o Prémio da Imprensa Cultural, o Prémio Vida Literária – atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores e o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco.
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A casa da minha infância foi um «monte» alentejano, próximo do rio Ardila, a cerca de quatro quilómetros da branca cidade de Moura.

A frontaria dava para um pátio empedrado, de onde ainda se vêem, num alto, a eira, e mais perto, outras construções: a habitação do feitor, a cavalariça, a vacaria, o galinheiro, o curral dos porcos, o alpendre onde guardavam o trem, o churrião e vários carros de lavoura e alfaias agrícolas, a charrua, a debulhadora, o trilho...

A toda a volta da casa mansas oliveiras, quase cinzentas por tempo fosco, mas de prata quando o sol se mostra. E, quase encostada à casa, as olaias, muito visitadas pelos pardais sobretudo à noitinha, e a suave glicínia, trepando por uma parede caiada, junto a janelas de grega do quarto dos meus pais.

Foi nesse cenário rústico, que de Inverno acordava muitas vezes branco de geada e onde a Primavera vinha cedo, de ouro e azul, sobre a verde germinação das searas, que decorreram os anos mágicos da minha infância, escutando os cantos e os dizeres dos camponeses, brincando com os pastorinhos das ovelhas e das vacas, galopando pelos montados do outro lado do rio, escalando cabeços cobertos de estevas e mistério(...)