17 julho, 2008

Nos dias inventar

Quero inventar
a baía das estrelas
as ramagens do corpo
nos poros de cetim
as catedrais com forro de areia
nos dias partilhar jardins
apertar a cal contra o peito
como se reescrevesse
o sal eterno no meu sangue
onde morreste e estás inteiro
partilhar a chuva dentro das pálpebras
o musgo das muralhas
adormecendo um xaile de canções
mães perdidas no tempo de amar
heróis de sabão entre os dedos
preocupar-me eternamente
porque os deuses
nunca morrem
no rasgar das andorinhas
nas papoilas rebentando frutos
no cheiro das laranjas de incenso
quando a luz anoitece.

Graça Magalhães, Julho 2008