06 julho, 2008

Trilhos Silentes

imag. de Antonio Pallaiolo

Se me inundares com vagas de doçura, dir-te-ei
que um minúsculo jardim é a terra inteira
e os teus olhos, são estrelas, esmeraldas.
Se me inundares com vagas de brancura, dir-te-ei
que é nos touros negros que a luz implode,
que os insectos são estranhos animais
e que a a poesia é um lugar de aloendros,
matizados de sangue.
Por vezes, minúsculas borboletas em volta
de uma língua de argila e pó, produzem múltiplas
imagens, que percorrem o eco remanescente
de andorinhas pulsáteis.
Em ti, leio a secreta vocação onde o sol se multiplica,
na haste policroma, onde o imaginário regressa
e recrio a noite, o lume, o vazio,
pelos sons que se abrem à límpida impulsão,
à centelha mutante, à fulguração exacta,
à chama perfeita.
Em ti, leio a vocação imaginária, o fulgor exacto,
o rigor incessante de um rasto luminoso,

negro, eloquente

Maria do Sameiro Barroso, in "As Vindimas da Noite".