A BRINCADEIRA
um dedo molhado ao vento
inferir – é muito provável que alguém
deite culpas para cima do menino, dele andar por aí
a dar uso à natureza
de manter quentes no bolso os planetas que lhe convém
porque os berlindes
inócuos frutos de vidro no bolso da criança
são bolas de cristal dos bruxos crescidos
adivinham as quatrocentas e noventa parábolas a viver
as algibeiras do menino são fundas
e os adultos sabem disso, como sabem
na verdade qualquer criança é algibeira funda
daqueles que por miopia do olho espiritual
irrompem maioridade
por vezes tão funda
a ponto de por momentos encobrir toda a farsa
não há tribunal que apure esta causa
um pouco de natureza por estas paragens
igual à do menino que
de cova em cova
anda a puxar sorte aos berlindes
Porfírio Al Brandão
[desenho de António Maria Lisboa]