13 maio, 2008

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é de águas o verso liquefeito
que me foge
nunca atinjo não domino
escorre ao ritmo das ausências
inocentes
das presenças de quem está sem o saber
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das voláteis escorreitas horas ténues escorre o verso que não chego a escrever.
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é de águas.
e ventos nas ramas verdes.
águas onde o barco poisa. e a montanha.
verde verde que te quero cavalinho.
e a cigana que também verso, sei.
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é de águas e da claridade ao norte
onde as asas atravessam a mensagem
branca. juncos. a da mãe. e da mãe.
verso limpo. não o atinjo. mas sei.
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é de águas e figuras soberanas
pela voz bela mulher dolorosa
onde também o mar era o horizonte
verso sábio. não o alcanço. mas sei.
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é de águas o continuado poema
de quem traz a luz do sul para a cidade
enigmática mestria incessante
mestria do verso liso. leio e sei.
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é de águas rochosas, agrestes palavras
montanhosas. narração do mundo cru.
homem hirto, atento poeta aflito
verso
que não cobiço nem invento. mas sei.
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é de águas em nomes multiplicadas
em perfis em poetas em personas.
mago. magistral o escrevente da pátria
portuguesa água que escuto. que sei.
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é de águas e da ousadíssima fala
erotismo da brava fêmea divina.
versos que hoje se calam nunca esqueci.
pitonisa da palavra. bem o sei.
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é de águas e da lusíada traça
o imponente verso a perdurar no tempo
grande arguente escriba de identidades
do poema a que não chego. mas sei bem.
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maria toscano
coimbra, Jardim da Manga, 5 Set /2007
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(também no sulmoura)