28 maio, 2008

Romance

a rapariga pede à moça:
_água bendita aquecida
a moça diz à rapariga:
_ainda não houve partida

a rapariga repete à moça
o seu pedido leal :
-traz-me água aquecida
se não houve partida
água não me fará mal

a mãe rompe aparecida
desenganando-a do choro
promete-lhe água vinda
lembrando-a do decoro
da sua afeição ao bragal

a rapariga pede à moça
-àgua de flores água de mel
água que mate espadas
fala-lhe o coração infiel

a mãe por perto almeja
o véu sobreposto ao céu
é tudo o que deseja
numa guerra sem desgosto
sem espada e sem burel

a rapariga pede à moça:
-àgua e três candeias
duas alumiam o rosto
outra o desgosto da ceia

a rapariga diz à moça:
- morre a chama na candeia
a moça vê-se vencida
treme o corpo à rapariga

outro dia virá depois
uma prece em cada dia
a rapariga no seu desgosto
reza no rio alegria

in palimpsestos ( 1) José Ribeiro Marto