27 maio, 2008


cercam-te as águas do silêncio
na página branca da bruma
onde
sem que o saibas
és nada.

na espessa solidão das pedras
julgas reconhecer a música das esferas
e nada és . e nada muda.

vem um guardião trajar-te de infinito
adornar-te com algumas pérolas
para a grande cerimónia da voz.
não compreendes porque o faz. e
nasces a chorar.

tua mãe logo acende algumas horas
no caminho das formas
amamentando - te de luz
para que não venhas a cegar
de escuro

cantas então com as estrelas da noite
sobre um trono de relâmpagos
como uma alma assente em luminárias de fogo
acesas no altar do coração do mundo.

supôes-te o mais livre dos seres.

mais à frente em tuas vestes resplandecem
as primeiras letras de bronze
oriundas do antigo
jorrando em castiçais de ouro
os primeiros frutos.

julgas que não és humana
mas uma deusa no mundo.

- e faltam coisas tão eternas como a eterna mudança,
frágeis ânforas para o esplendor do lume -

é então que tremes . conheces a vastidão do nada
porque foste queimada pelo fogo
trespassada pela espada das dúvidas
lançada à dispersão e loucura.

difícil é agora quando retornam aos dias
os seus carvões escuros
e ocupas o lugar dos muros
ainda por arder

até que saibas onde o poema habita
cercam-te as palavras
os gestos
a voz



a vida inteira é tua



maat in a luz do poema
óleo de helen knoop