24 maio, 2008

Rotas infinitas

A todos os que se perdem (de amor) nas margens da poesia...
Pétala
.
“Enquanto as mãos,
na exposição do argumento,
tremem visivelmente,
ele permanece sereno, pousado
(gota de orvalho sobre a agulha do pinheiro)
no momento presente.”
---Claudia Roquette-Pinto---

7.

E o que cada rosto a rosto possibilita: os olhos que ficam expostos, abertos no enlace (in)completo antes de acordar o bafo intocável dos gestos e a folhagem da indaiá, lentamente, muito lentamente, é uma língua de metamorfose(ar) desejos, de sabor para ficar na sombra da tarde, na sombra do Mondego e tudo em ti ja(zia) transborda(ndo) a flor de fogo atravessada dentro do corpo, a arte mais forte de morrer de amor, de morrer na corola extasiada da flor, para poder arrebatar o sémen antes de se tornar sangue, é que já tardam de tardar as manhãs serôdias de nevoeiro, deste(s) corpo(s) talvez demasiado consumido(s) de fome ou luxúria e por entre o sorriso louco das mulheres que enlouquecem visões (im)puras, há um jardim de onde saem todas as borboletas, a clara visão do (im)possível. Sob a boca dos céus o amor cintila como um olho de tigre. Neste lugar em que as almas vivem, onde o que mais prevalece é o amor descartável, a notícia de que o filósofo André Gorz e sua mulher, amante, amada, se suicidaram para que nenhum deles (sobre)vivesse (a)o sofrimento e à ausência do afecto, às madrugadas que murcham nas bocas sol(dadas) ao amor, faz-me pensar que talvez nenhuma palavra será suspensa ou revelada como outrora. A(com)panhar alguém no caminho da morte é algo d(emasi)ado supremo e de entrega ao outro, para que o bafo (in)quieto dos animais ainda se acenda para os dias de hoje. Um exemplo de como a morte é parte da vida e a raiz é parte da flor. E os firmamentos enfeitiçaram-se com os seus crimes e traições – o selvático desejo e o amor perverso - o infindável e contíg(u)o círculo da paixão, a(s) pétala(s) florescendo, a magnificência das fogueiras onde só acasalam os pirilampos sagrados. E o que cada rosto a rosto possibilita: tu, uma pétala nua.
.
In, " A anatomia d(um)a flor ou a metamorfose da raiz da língua".
Livro Inédito, 2007, João Rasteiro
.
Em homenagem a um dos maiores ícones (hoje já uma lenda viva)da cultura Ocidental das últimas décadas (BOB DYLAN), 24.5.1941, compositor norte-americano, distinguido muito recentemente com um Pulitzer Prize pelo seu trabalho na área musical, e que para além de músico é escritor e pintor, aqui fica uma das suas mais belas músicas, logicamente dando força ao texto colocado em cima. E não esquecer-mos o que ele cantou: Que Deus te abençoe e te acompanhe sempre,/Que seus desejos se tornem realidade,/Que você sempre faça para os outros/E deixe que os outros façam por você./Que você construa uma escada para as estrelas/E suba cada degrau,/Que você fique jovem para sempre,/Jovem para sempre, jovem para sempre,/Que você fique jovem para sempre.(...)
.