10 junho, 2008

10 de Junho - Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas

Comemora-se hoje o 10 de Junho, aquele que desde 1977 é designado oficialmente como “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”. E por isso é necessário continuar a comemorar um país que nos deverá sempre orgulhar da sua história, com todos os seus defeitos, erros e virtudes. É preciso continuar a comemorar este país único, mesmo quando as desigualdades, a pobreza e os direitos não correspondidos dos cidadãos se acentuam cada vez mais de uma forma progressiva e até perigosamente aceite numa indiferença de números estatísticos, que estão para além da dignidade de um povo. Durante o Estado Novo era utilizada a designação “Dia de Portugal de Camões e da Raça”. E se mesmo assim, tenho muita honra em comemorar este dia, sob o manto desse grande português que se chamou/chama Luís de Camões, sinto-me no entanto profundamente envergonhado, ou até chocado, por a figura maior da República portuguesa se referir a este dia , nos termos em que o fez. É incompreensível, para não dizer indecifrável, que o mais alto representante da República veicule publicamente a pior imagética do anterior regime, insistindo e sustentando a existência de um suposto atributo rácico comum à cidadania nacional que merece ser exaltado na sua superioridade. Como diria Luís de Camões:"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,//Muda-se o ser, muda-se a confiança;//Todo o mundo é composto de mudança,//Tomando sempre novas qualidades.//(...) Será? - JOÃO RASTEIRO

ERROS MEUS, MÁ FORTUNA, AMOR ARDENTE

Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que pera mim bastava amor somente.
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Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas, que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.
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Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.
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De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!

OS LUSÍADAS

CANTO III

20
«Eis aqui, quási cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floreça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora; e lá na ardente
África estar quieto o não consente.

21
«Esta é a ditosa pátria minha amada,
À qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada,
Acabe-se esta luz ali comigo.
Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso ou Lisa, que de Baco antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros,
E nela antão os íncolas primeiros.
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