11 junho, 2008

Quando ela morrer num apresto de festa
inseparável do mistério da sua boca
ficarão as palavras horizontais
no rosto assimétrico das lágrimas
ficarão as macieiras perfumadas
os segredos arqueados
arrancados ao peito em foices de prata
ficará o corpo deformado intenso de aromas
a dor do xisto nas ardósias e nos gritos
e um país contemporâneo
ficará a imagem das flores acumuladas
num altar azul sob os ombros dela
ficará o rosto fechado na linha dos olhos
o sorriso poisado a ternura imóvel
e a terra fresca aumentada toda aberta
ela poderá aí dormir com os olhos dos insectos

Graça Magalhaes, 2008, Lavrar no corpo das algas, Palimage