18 junho, 2008

Gatos, absinto e morte

Rachel amava os gatos
e a vida.
Odiava os medíocres.
Com esses era ranzinza,
impaciente e ... implacável,
por que não?
" De noite vira bruxa",
diziam os vizinhos.
Rachel ria e bebia absinto.
Absíntica, enigmática,
tão maníaca por mitos
que beirava a mitomania.
De tanto amar os gatos
acabou virando uma ...
gata.
Revirava latas de caviar
e lambia lascas de camembert.
Uma gata de gosto
fino,
sutil,
refinado.
Um dia subiu no telhado
com o violino
e o cálice de absinto.
Abriu os braços,
esticou a coluna,
arrepiou os pêlos
fechou os olhos
e parou o coração.
Num salto mortal se foi
para o outro lado do mundo.
Sem vassoura
atravessou a lua
virou uma estrela.

Rachel Melamet era uma gata. Uma amiga gata que deixou de miar nos telhados daqui da Terra porque Deus (sempre Ele) a chamou ... no cio.
poema de Márcia Frazão, Brasil / ilustração digital de Augusto Mota