15 junho, 2008

ROTAS

Um dia, também eu encontrarei a morte no meio dos amieiros. Ela dará então uma volta pela aldeia, refrescar-se-á na Fonte dos Reis e continuará a caminhar através do infinito vazio, e eu esperarei com um livro aberto, no capítulo sobre o inferno, repousando e esperando ao cimo do movimento como ser pasmado, antes de chegar a noite. O pulo do corpo disputando a terra da criança alva, o cheiro dos novos corpos neste lugar – como se eu voasse e brotasse sobre a raiz ríspida da colina. Um corpo na lembrança excessiva de outro corpo, antes de chegar a noite. Um corpo fincado na paixão da pele e instigado para além da profecia.
(...)
E hoje, na Primavera em que todas as memórias morreram, enterrei o teu nome num canteiro de magnólias de cristal e olho-o de longe, para que a minha boca não se rasgue mais em suas arestas. E ele ferve. E colho flores e as minhas vestes ficarão perfumadas. Regresso quando a palavra se detém no sémen dos amieiros, enquanto construo a memória de que eles fazem parte, com a solidão nua e intacta das vozes que os protegem de mim.
João Rasteiro - "O Búzio de Istambul", 2008
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GUNS N' ROSES ~ KNOCKING ON HEAVEN'S DOOR
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