07 junho, 2008

sílaba da verdade

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não há metáforas nas palavras inscritas
pela fala
sílaba da verdade.
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não há metáforas para a curta alegria
de viventes esfaimados.
em sangue
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escorre o esbanjamento a incúria ao ritmo do suor apequenado.
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os cabelos da terra em palha de aço
instrumento dócil da iniquidade.
as raízes dos povos e seus farelos
sufocam-se nos claustros do negócio
onde o rio só serve para chamar multidões esganadas sem futuro.
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escorre a iniquidade o esbanjamento
a incúria e a perversa encenação.
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onde plantar o trigo, colher o pão?
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onde o onde que navegava em fartura?
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pescados do infortúnio
frotas sem guelras.
impunidade onde a metáfora não cabe
texto do tempo sem texto nem tradução
sem linguagem que areje os horizontes.
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nas palavras inscritas pela verdade
não há metáfora para o terror
socializado
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guardemos, pois, as metáforas
da vida
para esse germinar da paixão
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sílaba quente de ontem e amanhã
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sílaba pura intacta da verdade
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sílaba inteira
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vivente
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sem metáforas
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sem metáforas para dizer o que é. e há-de.
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maria toscano
Coimbra, 4 junho/2008 ,in sulmoura