estou só
tão só que me esqueço de que estou
sou
vacilante entre o antes o depois
naquela recordação doce de coisa alguma
naquela solidão redonda
sinónimo de algumas ausências
tecidas na serenidade violenta
dos adeuses ditos há anos
agora
lembro.me de os sentir fortes
a agonia do cansaço vivido
em cada madrugada
descalça
com frio dentro da cabeça
os pés a palpitar face à sabedoria
transparente verdadeira
que transpiro em cada poro
inscrita neste corpo frágil que
oscila na espontaneidade constitutiva
de todas as existências
existentes para além da filosofia
humanista de Sartre
e Hegel
na antecâmara
das correntes filosóficas
conducentes a nenhures
prefiro outras correntes
as dos rios
desde que não corram
para a evidência do mar
quedada na falácia do existir
como única permanência do ser
a pessoalidade
na inter face do verosímil
na fragilidade do corpo
gabriela rocha martins
fotografia de Aykan ÖZENER