22 junho, 2008

Nunca a noite se abriu para nós



Desprendias me as mãos do copo de vidro.
Lá fora, um som de tempestade.
Era a noite do fim do dia e restavam apenas ganchos perdidos pelo chão, pés caindo do sofá. Restavam apenas os nossos cabelos artisticamente entrelaçados. Eram as respirações que se ouviam, demoradas e pensadas.
As sombras cinzentas cerravam os malmequeres nas pálpebras e sentia cada átomo que se desprendia do teu corpo. Decorava a dança da tua anatomia, a música do teu pulsar, desenhava cada vértebra.
Éramos mais do que concretos à luz da fogueira.
Éramos um momento, uma filosofia, uma poesia. Éramos a causa e a consequência.
Éramos….
E afastavas-me o cabelo dos olhos num ritmo compassado. Eu olhava-te.

Mas não.
Nunca a noite se abriu para nós.

Sofia Magalhães