06 junho, 2008

Cantiga de amor

muito me aguardava a minha amiga à beira daquele rio
com seu relógio fino parado na sépia daquela tarde
seu cigarro enrolado o seu café já tomado
a sua revista insolente muito do meu agrado
muito apreciava eu o brio da sua palavra


muito tempo passávamos à beira daquele rio
muito era o sol muito era o vento pouco era o frio
tanto demorávamos vendo pássaros na enseada
libertando asas planando no céu de cores o brio


muito eu lhe tardava muito eu lhe corria
tanto me alegrava tanto ela sorria
tanto ela falava tanto era a palavra
muito me esperava a minha amiga no rio


a minha amiga esperando à beira daquele rio
só chegado muito ao perto eu sentia
correndo o atraso desfeito na luz daquele dia
um barco ao largo vogava vela e alegria
eu desfeito no silêncio tanta palavra perdia


muito eu lhe tardava muito eu lhe corria
muito me alegrava muito me fugia
muito me aguarda a minha amiga
muito lhe cantava eu triste na alegria


muito me davas muito sentia o fôlego adiantado
era do caos da cidade meu amor eu não te mentia
trazia nos olhos os teus a cantar
sentia um relógio a passar a cidade perdia o rio

José Ribeiro Marto